domingo, 16 de outubro de 2011

Um lugar no mundo


Hoje, ao invés de coisas do mundo ou de pensamentos estranhos que povoam esta pobre cabeça, vou escrever sobre um lugar.
Um corredor verde, ladeado por um arroio de águas ainda limpas, com areia no fundo, rodeado de árvores nativas, alguns eucaliptos intrometidos e muitos pássaros pelas árvores. Pelo chão, rosetas, guanxumas, formigueiros, cupinzeiros, tocas de tatu aqui e ali. De vez em quando uma cobra verde brinda nosso caminho com sua camuflagem perfeita. Ou então uma cruzeira, de movimentos rápidos e ameaçadores, faz nosso coração quase saltar pela boca de susto.
Nesse trecho, no fundo do potreiro, algo assim como uns 70, 80 metros de comprimento por uns 100 de largura, tive experiências bárbaras: matei monstros espaciais, construí bases interplanetárias imensas nos barrancos na beira d’água, arrebentei inimigos no fio do meu facão (sim, tinha oito anos e um facão só meu, outros tempos...), pesquei muçuns, traíras, lambaris e joaninhas, li a maioria da bibliografia da minha monografia da faculdade e, pasmem, noivei com a Milena, com as árvores e um cão fiel como testemunhas.
Pode parecer uma grande bobagem, talvez seja, mas toda vez que o mundo aperta o calo e tenho que pensar sobre o que fazer, volto para o capão, falo sozinho, ando pelo mato, dou comida aos mosquitos e, na maioria das vezes, saio com alguma idéia que me traz de volta à sanidade.
Pronto, consegui escrever algo isento... Pausa para risos...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

deus...

Hoje eu vi que deus existe...
Antes que alguém me benza, atire uma pedra ou me diga:
- Viu só como tu tava errado?
Eu explico que não, não me converti a nenhuma igreja, continuo achando os padres seres não-confiáveis (em sua maioria), o espiritismo uma tentativa de darwinizar o espírito e que deus é uma baita invenção do ser humano para por nas costas tudo aquilo que ele não consegue compreender!
E é nesse ultimo quesito que eu vi deus hoje, perto do meio-dia, numa tela de computador, em preto e branco e com imagem chuviscada.
Pois é, lá estava em minha frente todo o mistério da vida, que não tenho a menor condição de explicar e que pulsava ali, com perninhas, bracinhos, cabeça, se virando como se quisesse se esconder da imagem que a ecografia tentava captar.
Nunca vou conseguir explicar o que senti, mas uma vida cresce na barriga da Milena e, por mais inacreditável que pareça, é obra conjunta destes dois seres imperfeitos, patetas e atrapalhados.
Deus tem 6,1 centímetros, 12 semanas e todo o amor do mundo...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lanceiros, Farrapos, trapos e outros bichos...


Sempre quando chega a Semana Farroupilha, recomeça a eterna arenga entre tradicionalistas e historiadores sobre qual o real sentido destas comemorações. De um lado e do outro são feitas acusações de falsidade, manipulação e mau hálito.
Como aprendiz de feiticeiro, me sinto um tanto incomodado com esse diz-que-diz-que, pois esse tema me é caro por considerá-lo um dos melhores exemplos de como somos todos, de alguma forma, confusos em nossas certezas, tanto as ridículas quanto as absolutas (pelo simples fato de assim serem).
Cavalos, pilchas, bigodes cuidadosamente deixados desde o começo de agosto e churrasco para alimentar a Somália rolam soltos no mês de setembro por todo o Rio Grande do Sul. O motivo? “Comemorar uma guerra perdida”, diríamos nós, historiadores críticos de todo o aparato ideológico que há por trás de tudo isso. “Ressaltar os valores farroupilhas” diz o MTG, orgulhoso sobre seu cavalo muito bem encilhado e com o mango pronto pra cantar no lombo de quem achar ruim.
A questão é: nem tanto ao céu nem tanto à terra...
Ta bom, se não há como negar que foi uma guerra perdida, que todo esse instrumental de indumentária, postura e tal são invencionices de um pequeno grupo de filhos de fazendeiros saudosos da vida no campo que, liderados pelo Paixão “Laçador” Cortes, inventa um Rio Grande e cria um herói chamado Gaúcho que, como em vários outros movimentos de construção identitária, tem sua gênese num passado idílico pastoril, livre e aventureiro, não se pode ignorar que as pessoas que lá estão nos piquetes e acampamentos realmente acreditam nesse ideal, assimilam valores morais como referências para a vida e são felizes de bota e bombacha, recriando um mundo que, se não existiu no plano real, é muito palpável na memória coletiva, no inconsciente de cada um e cada uma.
Agora vem o que considero a grande questão de toda essa polêmica. Que direito temos de desconstruir um mito que se baseia numa tríade de liberdade, igualdade e fraternidade entre os povos? Não são valores caros a toda a humanidade?
Bueno, se Bento Gonçalves deixou mais de 40 escravos de herança para a família, é no mínimo de se estranhar elevarmos o sujeito como símbolo de luta pela liberdade. Fora de qualquer questão, o que movia esses grandes líderes farrapos era o dinheiro. É uma guerra que desponta por disputa de poder dentro da província, de taxação sobre a principal mercadoria e de divergências que ultrapassam os limites do RS e pousam no movimento artiguista e na conjuntura político-econômica platina das primeiras décadas do século XIX.
Luta pela liberdade? Claro que houve. Milhares de negros pelearam como animais em função da promessa de liberdade depois da guerra, que não se cumpriu...
Mas, o que fazer então?
Bom, como a grande maioria dos gaúchos, também comungo com a emoção que é cantar o Hino Riograndense num estádio lotado ou ser leitor do bairrista.com e achar que aqui é o melhor lugar do mundo...
Por isso, digo que ser gaúcho é uma questão de fé esclarecida. “No creo en las brujas, pero que las hay, las hay!” diz o ditado. Assim me sinto na Semana Farroupilha: sei observar a movimentação toda de forma crítica, percebo as nuances ideológicas que construíram o tradicionalismo, o absurdo do culto à personalidade de sujeitos como Bento, Fontoura, Canabarro e outros, mas ali fico, com os olhos marejados, a admirar a cavalhada desfilando na avenida e toda aquela gente dizendo que a luta pela liberdade é uma luta digna...
Alguém pode negar que é?

sábado, 20 de agosto de 2011

O Espírito do Rádio


Éramos uma família pobre. Sempre fomos e ainda somos.
Nunca tivemos maiores problemas, como passar fome ou algo assim mais agudo, mas sempre vivemos correndo atrás da máquina.
Minha mãe era professora primária estadual e essa definição, infelizmente, não precisa de maiores explicações no quesito finanças. Meu pai se aposentou cedo, ainda antes de eu nascer, por invalidez: teve depressão, foi internado, coisas da época.
Assim, vivíamos com o salário da mãe, a aposentadoria do pai e mais um dinheiro que nunca soube se entrava ou se saía de um armazém que tínhamos na casa da minha avó, beira de faixa, lá no Caí.
Desde pequeno eu ajudava no armazém. Muito a contra gosto, assumi o balcão da bodega quando tinha uns 14, 15 anos. Naquele ano, 1989, meu irmão Beto foi morar em Minas Gerais e eu tomei conta do quarto dele e de tudo o que ele havia deixado para trás.
Assim, fracionava meus dias em estudar de manhã na Escola Normal (hoje Instituto Paulo Freire), cuidar da bodega de tarde e esmiuçar o botim que me havia caído em mãos com a tomada do quarto do Beto.
Os tesouros eram vários: uma cama de ferro que era do meu pai, uma caixa com livros (o Diário da Bolívia do Che era um deles), cartas das namoradas (do Beto, é claro), várias Playboys (Magda Cotrofe, Monique Evans, ai, ai), dois pôsteres na parede (Beatles e Kiss, mistura estranha, mas cavalo dado...), uma espingarda calibre 20 desativada e o bem mais precioso de todos: um rádio Philco Ford, modelo Transglobe, 9 faixas, pretão, que o Beto havia tomado de um peão do meu tio por uma conta antiga no boteco.
Naquelas tardes enfadonhas e nas noites solitárias, o Radião, como era chamado, foi o meu companheiro mais presente.
Minha mãe já o levava de manhã para o armazém, para ouvir as notícias na Gaúcha. Quando eu abria a bodega na parte da tarde, ligava o bichinho na Ipanema FM e assim ele seguia até as dez, onze da noite, quando apagávamos, eu e o Radião.
Só pra esclarecer: não tínhamos outro rádio, nem “três em um” ou toca-discos, portanto, éramos uma família radiofônica. Nem mesmo a TV tinha tanto destaque na minha vida por esses dias.
Como não podia deixar de ser, o Beto sempre foi minha referência na infância. Para o bem e para o mal, diga-se de passagem. E como o alemão escutava direto a Ipanema, com nove anos eu e o Roveda já berrávamos “Nicotina” dos Replicantes o dia inteiro, para desespero das mães das criaturas (que bagaceirada esses guri tão virando!).
Mas foram nesses dias longos e monótonos que aprendi a gostar de música, de rock, de coisas diferentes como Velvet Underground, Violeta de Outono e Jane`s Addicition, ou de música popular gaúcha, como o Nei Lisboa, sem falar dos roquinhos do TNT, dos Cascavelletes, De Falla e da Bandaliera (antes do Alemão Ronaldo cantar coversinhos por aí, mas isso é outra história).
Assumi de vez uma postura rocker. Deixei o cabelo crescer (um ninho de abelhas), fumava Malboro (obrigado Slash, por me tornar um viciado...) e apertei a tecla “F” do painel de controle.
Escrevo isso tudo porque nessa semana a rádio Ipanema FM, do grupo Bandeirantes, como se fosse um João Kleber ou um Sérgio Mallandro, montou uma “pegadinha” com os ouvintes, espalhando que iria mudar de perfil e tal.
Confesso que por conta da correria não escuto mais tanto rádio, soube isso pelas redes sociais. Mas que me deu um baita aperto no peito e uma nostalgia me bateu forte, ah isso bateu.
Me vieram à mente as vozes da Kátia Suman, da Meri Mezzari, Nilton Fernando, Mauro Borba e percebi que essas pessoas, muitas das quais nunca vi, fizeram parte da minha adolescência e de todos os sonhos e pesadelos que tive, escorado naquele balcão às margens da RS-122, vendo a vida passar da janela.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A raiva burra...


Tem coisas que a gente nem devia comentar, pois, como diria meu finado pai, são iguais à bosta: quanto mais se mexe, mais fede...
Mas, como parece que gosto de ver o estrume feder, vou ter que comentar um videozinho que assisti no youtoba hoje, postado por uma amiga das antigas, militante LGBT (ou a sigla mais atual do movimento...) que é de autoria de uma banda de carecas, skinheads ou outra facção fascistóide que destila ódio aos negros, aos homossexuais, aos hippies, aos golfinhos, aos Teletubbies, ao otorrinolaringologistas e tais, ou seja, os caras tem um pé com quem quer que seja!
Não vou dizer o nome destes otários porque não quero dar publicidade pro que não presta, mas os tais carecas de tal doutor se espavitam falando que Porto Alegre era um lugar muito legal até um partido dominá-la e tomar conta de tudo, trazendo aquilo que seria a decadência da civilização ocidental: o Fórum Social Mundial e toda a hippongagem que veio junto...
Bom, não preciso dizer que a letra senta o porrete em petistas, hippies, alternativos, gays, berrando que “vamos limpar todas as nossas ruas” e coisas do tipo.
A pior parte de tudo isso reside no fato de que esses caras estão infiltrados em torcidas de futebol, nas universidades e em partidos políticos de direita e já mataram gente, já foram presos e foram soltos e estão por aí, esperando pra nos identificar como algum esquerdista-liberal e nos espancar até a morte (em bando, é claro, pois todo fascista é um covarde).
Nada é pior que a raiva burra...
Se alguém que lê estas palavras for psicólogo ou psiquiatra e tiver acesso a algum estudo que monte o perfil desses sujeitos, por favor, compartilhe, pois juro que gostaria de entender o que passa por essas cabeças peladas. Será que leram o infeliz do Castan em demasia, choraram até emburrecer lendo Mein Kmapf ou vão se mudar com o Hilton Marx pra Santa Cruz e fundar a República Fascista do Pampa?
Bom, antes de tudo, acho que alguém tinha que passar o chinelo nesses guris (sim, porque isso só pode ser coisa de guri de bosta, aquilo que na minha família se costuma nomear de “porte ruim”) e deixá-los sem vídeo game por uma semana...
Ah, e diminuir o Nescau em 30%, pois ta subindo pra cabeça!

Bando de enrustidos...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A inclusão sertaneja


Depois de décadas de peleia por parte de professores, educadores, estudantes, militantes sociais, finalmente a inclusão educacional chegou!
Somos todos universitários!
Nos bailões, nos táxis, nos celulares chineses, nos chevettes e monzas, lá estão eles, trazendo consigo a chance dessa galera mal vestida e mal paga ingressar no maravilhoso mundo acadêmico!
PróUni? Não, nada disso, estamos falando do milagre chamado “Sertanejo Universitário” e da loucura que estes meninos latino-americanos, vindos do interior e, agora, com um monte de dinheiro no bolso, estão operando por todo este país tropical abençoado por deus, que beleza, que beleza...
Jovens músicos que, pela forma que se tratam os artistas em Pindorama, não tiveram alternativa senão largar os estudos e cair na estrada, estão agora a serviço da bondade e benevolência das grandes gravadoras, que sempre primaram pela qualidade musical e pelo livre acesso da população à cultura. Ah, como são legais estes senhores engravatados ao permitirem que os guris de chapéu e calça apertada realizem a multiplicação de universitários pelo país afora!
Antes que alguém me apedreje, adianto que sou fã de Milionário e José Rico, mas sempre fui vítima de bullyng por conta disto, visto que estes caras não são legais e nem vestem-se com aprumo (duvidei alguém ter mais estilo que o Milionário, mas vá lá, eles não são cool como Hugo Pena e Gabriel).
Direcionados inicialmente para atender os ouvidos de patricinhas e boys que habitam as madrugadas em postos de gasolina e que, de maneira alguma, se permitiriam ouvir estas coisas horrendas que Tonico e Tinoco cantavam há quase um século, os meninos bonitos com nomes transados (juro que pensei que João Bosco e Vinicius era um grupo de bossa nova!) vieram para agradar estes freqüentadores de bancos acadêmicos que tanto primam pelo bem vestir e por destratar frentistas, domésticas e catadores...
Porém, os benfazejos planos de nossa indústria cultural precisavam ampliar este público para o bem do Brasil! Então, os frentistas, catadores, domésticas, operários, agricultores, enfim, toda essa pobre massa miserável de cor indefinida recebeu a benção e, de um dia para o outro, foi admitida no meio acadêmico!

Cinismo de minha parte?
De maneira alguma! Só percebo e babo pela belezura que é a indústria cultural brasileira e a democratização do bem que traz à nossa sociedade!
Obrigado Luãn Santana!
Faço coraçãozinho pra você!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Fura Bolo!!!


Uma vez fui no zoológico com meu pai. Na verdade fui algumas vezes com o pai ver a bicharada, mas essa ficou marcada.
Foi lá por 83, 84, tinha uns oito anos. Num sábado à tarde, dia de folga do velho, quando a mãe ficava cuidando do armazém que tínhamos lá no Areião. O pai era bem parceiro pra essas indiadas comigo. Com ele fui ver o Circo Vostok, fui no meu primeiro Gre-Nal (empate em 1x1, na torcida do Grêmio, um horror!) e fui no zoológico, nosso destino preferido. Tudo isso de ônibus, pois o Guido não dirigia.
Mas então estávamos nós em Sapucaia, no Zoo... Zebras, elefantes, girafas (sempre impressionantes), dromedários, um camelo bactriano recém-nascido (essa nem vocês lembravam né? Os bactrianos são os de duas corcóvas, só pra lembrar)... Caminha pra cá, caminha pra lá e, a constância:
- Pai, me dá um picolé?
O grande lançamento da Gelatto era o Fura Bolo, um picolé em forma de mão, com o dito dedo em riste, de sabor indefinido, acho que era algo como framboesa ou doçura enjoada semelhante. No fim de mundo em que morávamos, eu apenas conhecia o tal picolé pela nossa Telefunken ou nas propagandas dos gibis. Fruto desse marketing restrito, mas pesado, meu consumismo naquela época se baseava em coisas do gênero, e isso incluía batavinho pra colar os potes vazios e fazer um robô.
O pai tinha um defeito, vários, como todos nós. E esse era um dos motivos que me fazia preferir sair com ele e não com a mãe. O pai SEMPRE dava as coisas pra gente. Como da vez em que fomos até a cidade pra me matricular no Ginásio São Sebastião e retornamos com um tênis Montreal (porque você é jovem!).
Um Fura Bolo, dois, três... Cinco no total, fora os refris...
Não preciso contar o resultado em pormenores, mas basta dizer que, naquele dia, a lateral do ônibus da Caiense teve um colorido diferente, num tom framboesa...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Memórias de um insone...




Se no meio da madrugada eu acordo e não mais prego o olho, tomado pelos mais estranhos pensamentos, vejo que algo está faltando ou sobrando na vida...
Pode ser trabalho demais, lazer de menos... ou, (por que não?) loucura demais e remédio de menos, quem sabe?
A grande questão dessa engronha toda é não dormir!
Só quem passa por isso sabe o quanto é angustiante sentir sono e não dormir, e o que é pior, passar o dia sonolento, porque o maldito sono (ou bendito, quem sabe?) vem sempre na hora mais terrível, quando o que tu não podes nem pensar é dormir.
No meio da reunião, depois do almoço, na conversa com o colega que fala devagaaaaar, pimba, lá está a criatura passando vergonha e “pescando”. Desculpas são bem vindas, mas geralmente fica aquela sensação de peidar no elevador lotado...
Aí tu chegas em casa, podre de cansado, toma um banho, deita e apaga. Quatro horas depois, tcharãm!, acorda para a vida e fica puto de raiva, não acredita que acordou de novo às três, quatro horas da manhã e sabe que vai ficar acordado (a contragosto, diga-se de passagem) até apagar de tão exausto novamente...
É, acho que vou atrás de ajuda, preciso dormir!
Que Freddy Krugger me proteja!

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre lágrimas e realidades

Hoje assisti ao Big Brother...
Cheguei em casa quase dez horas da noite, cansado pra caramba e me dediquei às futilidades da vida. Mas não deu...
A hora do “Paredão” é simplesmente impressionante!
Pedro Bial inicia uma falácia pseudo poética-filosófica-existêncial tentando dar um sentido, agregar valor, significar o momento, buscando um clima de epopéia heróica que chegara, finalmente, ao seu clímax...
Então, após o resultado, as lágrimas... Ah, como choram esses meninos e meninas, todos lindos e emotivos! Choram copisoamente depedindo-se do companheiro que sai da “casa” como se este se dirigisse para o cadafalso, ao que o provável enforcado se pronuncia com frases do tipo “Deus sabe o que faz!”. Após o indivíduo atravessar a porta que leva ao nosso mundo, eles seguem chorando e gritando "Fulaaaaaaano", como forma de reverenciar a digna passagem deste "herói" nessa intensa aventura chamada Big Brother...

Hoje à tarde vi um pai e uma mãe chorando ao lado do corpo do filho adolescente morto.

Realmente não dá.
Vai tomar no cu, Bial...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Egito...


Depois de um ano de ausência, volto a escrever nestas linhas.
De férias por casa, curto os últimos dias desse direito que ainda nos sobrou da Era Vargas vadiando, assistindo TV, lendo, enfim, no ócio. Bueno, então, para transformar esses momentos de pura preguiça em ócio criativo, cá estou.
Para este retorno, vou escrever sobre algo que ainda não escrevi por aqui: política.
E a pauta do mundo só podia ser o Egito.
Se abrirmos o jornal ou ligarmos a televisão, no que se refere à política internacional, só dá Egito. Aproveitando a repercussão do que aconteceu nos últimos meses na Tunísia, a população do Egito foi às ruas pedir a saída do presidente Hosni Mubarak. A reação do governo foi imediata: repressão, toque de recolher, tropa de choque, gás e balas de borracha. Vários mortos, feridos e presos.
Como na Tunísia, os manifestantes – a maioria jovens estudantes – se utilizaram de ferramentas eletrônicas para manifestar suas reivindicações e mobilizar a população pela sua causa. A resposta, novamente, foi repressiva: blecaute eletrônico no país das pirâmides, twitter e facebook fora do ar, sites internacionais bloqueados, etc.
Mas o que me chama a atenção nessa movimentação toda, a ponto de voltar a escrever depois de tanto tempo, é a posição das potências ocidentais no episódio.
Hosni Mubarak está no poder no Egito há trinta anos. Através de eleições fraudulentas, repressão e censura, se perpetua no poder. Entretanto, nada se disse até então na nossa imprensa sobre esse ditador. Aliás, nem era dado esse tratamento ao governante egípcio! Simplesmente “Presidente Hosni Mubarak”, e só!
Apoiado pelos Estados Unidos, Mubarak sucedeu Anwar Al-Sadat, de quem era vice-presidente, depois que este foi assassinado, em 1981. Seu posicionamento no Oriente Médio é pró-Ocidente, ficando ao lado dos EUA nas Guerras do Golfo e sendo aliado de Israel, mesmo depois da invasão do Líbano por este país, em 1982, contrariando a imensa maioria das nações árabes.
O Estado árabe mais populoso do Oriente Médio (cerca de 80 milhões de habitantes) está sendo alvo de investimentos de capital internacional. O investimento estrangeiro direto cresceu de apenas US$ 450 milhões em 2003 para mais de US$ 10 bilhões em 2007. Uma pista: o Egito está entre os principais beneficiários de uma torrente de dólares do petróleo vindos de países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Os Estados Unidos foram a principal fonte de capital em 2007, apesar de estarem em oitavo lugar no investimento cumulativo. Grandes corporações americanas como o Citybank, General Motors e Procter & Gamble têm investimentos grandes no país.
A grande questão é que estes investimentos (que proporcionaram crescimento na casa dos 7% nos últimos anos) não estão tendo suas benesses revertidas para a população. Já vimos este filme no Brasil do Milagre na década de 1970: desenvolvimento econômico sem investimento social, fracasso na certa...
A falta de perspectivas da juventude, a violação sistemática dos direitos humanos combinadas a uma série de fatores que acompanham as ditaduras, levou o povo egípcio às ruas para pedir liberdade e um futuro.
A Secretária de Estado norte-americana Hilary Clintom acaba de declarar que os Estados Unidos pretendem permanecer aliados do governo egípcio e do povo egípcio. Ah, os estadunidenses, sempre paradoxais...