sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Egito...


Depois de um ano de ausência, volto a escrever nestas linhas.
De férias por casa, curto os últimos dias desse direito que ainda nos sobrou da Era Vargas vadiando, assistindo TV, lendo, enfim, no ócio. Bueno, então, para transformar esses momentos de pura preguiça em ócio criativo, cá estou.
Para este retorno, vou escrever sobre algo que ainda não escrevi por aqui: política.
E a pauta do mundo só podia ser o Egito.
Se abrirmos o jornal ou ligarmos a televisão, no que se refere à política internacional, só dá Egito. Aproveitando a repercussão do que aconteceu nos últimos meses na Tunísia, a população do Egito foi às ruas pedir a saída do presidente Hosni Mubarak. A reação do governo foi imediata: repressão, toque de recolher, tropa de choque, gás e balas de borracha. Vários mortos, feridos e presos.
Como na Tunísia, os manifestantes – a maioria jovens estudantes – se utilizaram de ferramentas eletrônicas para manifestar suas reivindicações e mobilizar a população pela sua causa. A resposta, novamente, foi repressiva: blecaute eletrônico no país das pirâmides, twitter e facebook fora do ar, sites internacionais bloqueados, etc.
Mas o que me chama a atenção nessa movimentação toda, a ponto de voltar a escrever depois de tanto tempo, é a posição das potências ocidentais no episódio.
Hosni Mubarak está no poder no Egito há trinta anos. Através de eleições fraudulentas, repressão e censura, se perpetua no poder. Entretanto, nada se disse até então na nossa imprensa sobre esse ditador. Aliás, nem era dado esse tratamento ao governante egípcio! Simplesmente “Presidente Hosni Mubarak”, e só!
Apoiado pelos Estados Unidos, Mubarak sucedeu Anwar Al-Sadat, de quem era vice-presidente, depois que este foi assassinado, em 1981. Seu posicionamento no Oriente Médio é pró-Ocidente, ficando ao lado dos EUA nas Guerras do Golfo e sendo aliado de Israel, mesmo depois da invasão do Líbano por este país, em 1982, contrariando a imensa maioria das nações árabes.
O Estado árabe mais populoso do Oriente Médio (cerca de 80 milhões de habitantes) está sendo alvo de investimentos de capital internacional. O investimento estrangeiro direto cresceu de apenas US$ 450 milhões em 2003 para mais de US$ 10 bilhões em 2007. Uma pista: o Egito está entre os principais beneficiários de uma torrente de dólares do petróleo vindos de países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Os Estados Unidos foram a principal fonte de capital em 2007, apesar de estarem em oitavo lugar no investimento cumulativo. Grandes corporações americanas como o Citybank, General Motors e Procter & Gamble têm investimentos grandes no país.
A grande questão é que estes investimentos (que proporcionaram crescimento na casa dos 7% nos últimos anos) não estão tendo suas benesses revertidas para a população. Já vimos este filme no Brasil do Milagre na década de 1970: desenvolvimento econômico sem investimento social, fracasso na certa...
A falta de perspectivas da juventude, a violação sistemática dos direitos humanos combinadas a uma série de fatores que acompanham as ditaduras, levou o povo egípcio às ruas para pedir liberdade e um futuro.
A Secretária de Estado norte-americana Hilary Clintom acaba de declarar que os Estados Unidos pretendem permanecer aliados do governo egípcio e do povo egípcio. Ah, os estadunidenses, sempre paradoxais...