segunda-feira, 20 de junho de 2011

A inclusão sertaneja


Depois de décadas de peleia por parte de professores, educadores, estudantes, militantes sociais, finalmente a inclusão educacional chegou!
Somos todos universitários!
Nos bailões, nos táxis, nos celulares chineses, nos chevettes e monzas, lá estão eles, trazendo consigo a chance dessa galera mal vestida e mal paga ingressar no maravilhoso mundo acadêmico!
PróUni? Não, nada disso, estamos falando do milagre chamado “Sertanejo Universitário” e da loucura que estes meninos latino-americanos, vindos do interior e, agora, com um monte de dinheiro no bolso, estão operando por todo este país tropical abençoado por deus, que beleza, que beleza...
Jovens músicos que, pela forma que se tratam os artistas em Pindorama, não tiveram alternativa senão largar os estudos e cair na estrada, estão agora a serviço da bondade e benevolência das grandes gravadoras, que sempre primaram pela qualidade musical e pelo livre acesso da população à cultura. Ah, como são legais estes senhores engravatados ao permitirem que os guris de chapéu e calça apertada realizem a multiplicação de universitários pelo país afora!
Antes que alguém me apedreje, adianto que sou fã de Milionário e José Rico, mas sempre fui vítima de bullyng por conta disto, visto que estes caras não são legais e nem vestem-se com aprumo (duvidei alguém ter mais estilo que o Milionário, mas vá lá, eles não são cool como Hugo Pena e Gabriel).
Direcionados inicialmente para atender os ouvidos de patricinhas e boys que habitam as madrugadas em postos de gasolina e que, de maneira alguma, se permitiriam ouvir estas coisas horrendas que Tonico e Tinoco cantavam há quase um século, os meninos bonitos com nomes transados (juro que pensei que João Bosco e Vinicius era um grupo de bossa nova!) vieram para agradar estes freqüentadores de bancos acadêmicos que tanto primam pelo bem vestir e por destratar frentistas, domésticas e catadores...
Porém, os benfazejos planos de nossa indústria cultural precisavam ampliar este público para o bem do Brasil! Então, os frentistas, catadores, domésticas, operários, agricultores, enfim, toda essa pobre massa miserável de cor indefinida recebeu a benção e, de um dia para o outro, foi admitida no meio acadêmico!

Cinismo de minha parte?
De maneira alguma! Só percebo e babo pela belezura que é a indústria cultural brasileira e a democratização do bem que traz à nossa sociedade!
Obrigado Luãn Santana!
Faço coraçãozinho pra você!