segunda-feira, 15 de abril de 2013

Feliciano: Jesus não me representa!

Jesus devia ser um cara legal. Defendia amar os outros como a si próprio, assim como deixava as coisas bem claras, dando a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Como todo cara legal que afirma coisas legais para deixar o mundo mais legal, Jesus foi considerado ilegal pelo sistema da época e condenado a morrer pendurado numa cruz entre dois ladrões. Tanto os romanos, quanto a elite judia da Palestina não deixavam por menos quando alguém vinha querendo amor no mundo, paz, tolerância e todas estas coisas que causam perigo e estranheza à moral e aos bons costumes. Não tinha conversa: se bobear, te penduramos numa cruz rapaz! Pois é, mesmo para aqueles que, como eu, duvidam da santidade do rapaz da Galiléia, é impossível não simpatizar com suas idéias, afinal, é de amor que o mundo precisa. Porém, tem gente por aí que não gosta muito destas coisas e detona Jesus como pode! O Pastor Marco Feliciano, deputado do PSC de São Paulo, não gosta de Jesus. Afinal, que pouca vergonha é essa de ser tolerante, deixar que as pessoas sejam felizes e que não sejam importunadas em suas vidas? Parem já com essa baderna! Se Jesus estivesse vivo, Feliciano o mataria de novo! Afinal, Deus já matou John Lennon, que disse que “Só o amor é real” e gastou tempo enviando um anjo para matar os Mamonas Assassinas. Sinal que a morte do filho do homem foi encomendada pelo próprio pai, que, assim como Feliciano, não agüenta estas barbaridades... Afinal, o nazareno viria novamente com aquela conversa de tolerar e “dar a outra face”, conversa mole que Feliciano não admite! A “normalidade feliciana” começa e termina dentro da sua cabeça e lá não há espaço para estas sem-vergonhices! Dai a Deus o que é de Deus e a Feliciano o que é de Feliciano! E haja baú para guardar tudo isso! Mesmo quando fala em Jesus (e fala muito), Feliciano deixa claro nas entrelinhas: -Sou Marcos Feliciano e Jesus não me representa!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Saliva


Diz a Wikipédia que “A saliva é um fluido aquoso, transparente, que é secretado pelas glândulas salivares diretamente na cavidade bucal. É constituída principalmente de enzimas, minerais e aminoácidos”.
Digo eu que a saliva é a materialização de um estado de espírito.
Por isso eu babo, muito...

sábado, 31 de março de 2012

Uma luta só!


Não sou fã de lutas de qualquer tipo, com exceção das encenações de luta livre que assitia na infância com meu pai.Entretanto, como mortal bombardeado por informações todo o tempo neste mundo, não fiquei imune à febre do UFC que invadiu o Brasil no último ano.
Logo de cara simpatizei com o Anderson Silva, o Spider dos gringos. O cara, apesar de toda a pancadaria que propicia nos combates, parece gente boa: tem uma voz engraçada e defende causas nobres, como o combate à homofobia e, apesar do caminhão de dinheiro que deve estar ganhando, mantém uma postura muito tranquila, como deve (ou deveria!) ser a de um atleta.
Em fevereiro, o lutador me surpreendeu com uma melhor ainda.
O cara esteve na tribo dos Kamaiurá, no Xingu, para conhecer as técnicas do Huka-Huka, luta milenar praticada pelos índios e uma das principais atrações das festividades do Kuarup.
Na maior humildade, foi "finalizado" pelos lutadores indígenas até pegar o jeito, ensinou técnicas de MMA e também trouxe consigo novas idéias para usar no octógono, o ringue do antigo "Vale-tudo".
A imagem é linda, seja para um historiador, para um antropólogo ou para qualquer brasileiro que minimamente conheça a História do seu país:
Um negro que vai à selva para aprender as técnicas indígenas para lutar nos ringues do mundo.
Isso te parece familiar?
Deve ser porque fizeram a mesma coisa em Palmares, há mais de trezentos anos.
Zumbi sabia das coisas! Anderson também!

domingo, 16 de outubro de 2011

Um lugar no mundo


Hoje, ao invés de coisas do mundo ou de pensamentos estranhos que povoam esta pobre cabeça, vou escrever sobre um lugar.
Um corredor verde, ladeado por um arroio de águas ainda limpas, com areia no fundo, rodeado de árvores nativas, alguns eucaliptos intrometidos e muitos pássaros pelas árvores. Pelo chão, rosetas, guanxumas, formigueiros, cupinzeiros, tocas de tatu aqui e ali. De vez em quando uma cobra verde brinda nosso caminho com sua camuflagem perfeita. Ou então uma cruzeira, de movimentos rápidos e ameaçadores, faz nosso coração quase saltar pela boca de susto.
Nesse trecho, no fundo do potreiro, algo assim como uns 70, 80 metros de comprimento por uns 100 de largura, tive experiências bárbaras: matei monstros espaciais, construí bases interplanetárias imensas nos barrancos na beira d’água, arrebentei inimigos no fio do meu facão (sim, tinha oito anos e um facão só meu, outros tempos...), pesquei muçuns, traíras, lambaris e joaninhas, li a maioria da bibliografia da minha monografia da faculdade e, pasmem, noivei com a Milena, com as árvores e um cão fiel como testemunhas.
Pode parecer uma grande bobagem, talvez seja, mas toda vez que o mundo aperta o calo e tenho que pensar sobre o que fazer, volto para o capão, falo sozinho, ando pelo mato, dou comida aos mosquitos e, na maioria das vezes, saio com alguma idéia que me traz de volta à sanidade.
Pronto, consegui escrever algo isento... Pausa para risos...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

deus...

Hoje eu vi que deus existe...
Antes que alguém me benza, atire uma pedra ou me diga:
- Viu só como tu tava errado?
Eu explico que não, não me converti a nenhuma igreja, continuo achando os padres seres não-confiáveis (em sua maioria), o espiritismo uma tentativa de darwinizar o espírito e que deus é uma baita invenção do ser humano para por nas costas tudo aquilo que ele não consegue compreender!
E é nesse ultimo quesito que eu vi deus hoje, perto do meio-dia, numa tela de computador, em preto e branco e com imagem chuviscada.
Pois é, lá estava em minha frente todo o mistério da vida, que não tenho a menor condição de explicar e que pulsava ali, com perninhas, bracinhos, cabeça, se virando como se quisesse se esconder da imagem que a ecografia tentava captar.
Nunca vou conseguir explicar o que senti, mas uma vida cresce na barriga da Milena e, por mais inacreditável que pareça, é obra conjunta destes dois seres imperfeitos, patetas e atrapalhados.
Deus tem 6,1 centímetros, 12 semanas e todo o amor do mundo...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lanceiros, Farrapos, trapos e outros bichos...


Sempre quando chega a Semana Farroupilha, recomeça a eterna arenga entre tradicionalistas e historiadores sobre qual o real sentido destas comemorações. De um lado e do outro são feitas acusações de falsidade, manipulação e mau hálito.
Como aprendiz de feiticeiro, me sinto um tanto incomodado com esse diz-que-diz-que, pois esse tema me é caro por considerá-lo um dos melhores exemplos de como somos todos, de alguma forma, confusos em nossas certezas, tanto as ridículas quanto as absolutas (pelo simples fato de assim serem).
Cavalos, pilchas, bigodes cuidadosamente deixados desde o começo de agosto e churrasco para alimentar a Somália rolam soltos no mês de setembro por todo o Rio Grande do Sul. O motivo? “Comemorar uma guerra perdida”, diríamos nós, historiadores críticos de todo o aparato ideológico que há por trás de tudo isso. “Ressaltar os valores farroupilhas” diz o MTG, orgulhoso sobre seu cavalo muito bem encilhado e com o mango pronto pra cantar no lombo de quem achar ruim.
A questão é: nem tanto ao céu nem tanto à terra...
Ta bom, se não há como negar que foi uma guerra perdida, que todo esse instrumental de indumentária, postura e tal são invencionices de um pequeno grupo de filhos de fazendeiros saudosos da vida no campo que, liderados pelo Paixão “Laçador” Cortes, inventa um Rio Grande e cria um herói chamado Gaúcho que, como em vários outros movimentos de construção identitária, tem sua gênese num passado idílico pastoril, livre e aventureiro, não se pode ignorar que as pessoas que lá estão nos piquetes e acampamentos realmente acreditam nesse ideal, assimilam valores morais como referências para a vida e são felizes de bota e bombacha, recriando um mundo que, se não existiu no plano real, é muito palpável na memória coletiva, no inconsciente de cada um e cada uma.
Agora vem o que considero a grande questão de toda essa polêmica. Que direito temos de desconstruir um mito que se baseia numa tríade de liberdade, igualdade e fraternidade entre os povos? Não são valores caros a toda a humanidade?
Bueno, se Bento Gonçalves deixou mais de 40 escravos de herança para a família, é no mínimo de se estranhar elevarmos o sujeito como símbolo de luta pela liberdade. Fora de qualquer questão, o que movia esses grandes líderes farrapos era o dinheiro. É uma guerra que desponta por disputa de poder dentro da província, de taxação sobre a principal mercadoria e de divergências que ultrapassam os limites do RS e pousam no movimento artiguista e na conjuntura político-econômica platina das primeiras décadas do século XIX.
Luta pela liberdade? Claro que houve. Milhares de negros pelearam como animais em função da promessa de liberdade depois da guerra, que não se cumpriu...
Mas, o que fazer então?
Bom, como a grande maioria dos gaúchos, também comungo com a emoção que é cantar o Hino Riograndense num estádio lotado ou ser leitor do bairrista.com e achar que aqui é o melhor lugar do mundo...
Por isso, digo que ser gaúcho é uma questão de fé esclarecida. “No creo en las brujas, pero que las hay, las hay!” diz o ditado. Assim me sinto na Semana Farroupilha: sei observar a movimentação toda de forma crítica, percebo as nuances ideológicas que construíram o tradicionalismo, o absurdo do culto à personalidade de sujeitos como Bento, Fontoura, Canabarro e outros, mas ali fico, com os olhos marejados, a admirar a cavalhada desfilando na avenida e toda aquela gente dizendo que a luta pela liberdade é uma luta digna...
Alguém pode negar que é?

sábado, 20 de agosto de 2011

O Espírito do Rádio


Éramos uma família pobre. Sempre fomos e ainda somos.
Nunca tivemos maiores problemas, como passar fome ou algo assim mais agudo, mas sempre vivemos correndo atrás da máquina.
Minha mãe era professora primária estadual e essa definição, infelizmente, não precisa de maiores explicações no quesito finanças. Meu pai se aposentou cedo, ainda antes de eu nascer, por invalidez: teve depressão, foi internado, coisas da época.
Assim, vivíamos com o salário da mãe, a aposentadoria do pai e mais um dinheiro que nunca soube se entrava ou se saía de um armazém que tínhamos na casa da minha avó, beira de faixa, lá no Caí.
Desde pequeno eu ajudava no armazém. Muito a contra gosto, assumi o balcão da bodega quando tinha uns 14, 15 anos. Naquele ano, 1989, meu irmão Beto foi morar em Minas Gerais e eu tomei conta do quarto dele e de tudo o que ele havia deixado para trás.
Assim, fracionava meus dias em estudar de manhã na Escola Normal (hoje Instituto Paulo Freire), cuidar da bodega de tarde e esmiuçar o botim que me havia caído em mãos com a tomada do quarto do Beto.
Os tesouros eram vários: uma cama de ferro que era do meu pai, uma caixa com livros (o Diário da Bolívia do Che era um deles), cartas das namoradas (do Beto, é claro), várias Playboys (Magda Cotrofe, Monique Evans, ai, ai), dois pôsteres na parede (Beatles e Kiss, mistura estranha, mas cavalo dado...), uma espingarda calibre 20 desativada e o bem mais precioso de todos: um rádio Philco Ford, modelo Transglobe, 9 faixas, pretão, que o Beto havia tomado de um peão do meu tio por uma conta antiga no boteco.
Naquelas tardes enfadonhas e nas noites solitárias, o Radião, como era chamado, foi o meu companheiro mais presente.
Minha mãe já o levava de manhã para o armazém, para ouvir as notícias na Gaúcha. Quando eu abria a bodega na parte da tarde, ligava o bichinho na Ipanema FM e assim ele seguia até as dez, onze da noite, quando apagávamos, eu e o Radião.
Só pra esclarecer: não tínhamos outro rádio, nem “três em um” ou toca-discos, portanto, éramos uma família radiofônica. Nem mesmo a TV tinha tanto destaque na minha vida por esses dias.
Como não podia deixar de ser, o Beto sempre foi minha referência na infância. Para o bem e para o mal, diga-se de passagem. E como o alemão escutava direto a Ipanema, com nove anos eu e o Roveda já berrávamos “Nicotina” dos Replicantes o dia inteiro, para desespero das mães das criaturas (que bagaceirada esses guri tão virando!).
Mas foram nesses dias longos e monótonos que aprendi a gostar de música, de rock, de coisas diferentes como Velvet Underground, Violeta de Outono e Jane`s Addicition, ou de música popular gaúcha, como o Nei Lisboa, sem falar dos roquinhos do TNT, dos Cascavelletes, De Falla e da Bandaliera (antes do Alemão Ronaldo cantar coversinhos por aí, mas isso é outra história).
Assumi de vez uma postura rocker. Deixei o cabelo crescer (um ninho de abelhas), fumava Malboro (obrigado Slash, por me tornar um viciado...) e apertei a tecla “F” do painel de controle.
Escrevo isso tudo porque nessa semana a rádio Ipanema FM, do grupo Bandeirantes, como se fosse um João Kleber ou um Sérgio Mallandro, montou uma “pegadinha” com os ouvintes, espalhando que iria mudar de perfil e tal.
Confesso que por conta da correria não escuto mais tanto rádio, soube isso pelas redes sociais. Mas que me deu um baita aperto no peito e uma nostalgia me bateu forte, ah isso bateu.
Me vieram à mente as vozes da Kátia Suman, da Meri Mezzari, Nilton Fernando, Mauro Borba e percebi que essas pessoas, muitas das quais nunca vi, fizeram parte da minha adolescência e de todos os sonhos e pesadelos que tive, escorado naquele balcão às margens da RS-122, vendo a vida passar da janela.